Estado vive nova onda da Covid-19, mostram estudos


Por Catanduvas Online

29/10/2020 14:59



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Santa Catarina atravessa um período de aumento no número de casos da Covid-19. Para especialistas e autoridades sanitárias, a alta foi impulsionada por dois fatores principais: o descaso da população com relação aos protocolos sanitários aliado aos feriados desde 7 de setembro.

 

Foi ao longo do mês de outubro que o Estado sentiu os reflexos do movimento gerado no primeiro feriado após a flexibilização de medidas. E o próximo mês não deve ser diferente.

 

A tendência é que o aumento no número de casos seja ainda maior, uma vez que os efeitos do feriadão de 12 de outubro, que teve registros de aglomeração e praias cheias, só devem ser sentidos em meados de novembro.

 

O comportamento da população e as consequências da passagem dessas datas acende o alerta e descortina um cenário nada animador. Vem aí mais um feriado – 2 de novembro, dia de Finados – e a temporada de verão.

 

Fases da Covid-19

 

O afrouxamento de medidas restritivas estaria levando o Estado a atravessar uma nova onda da Covid- 19, como destaca a professora Eleonora D’Orsi, que atua no Departamento de Saúde Pública da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).

 

Na mesma linha, o Necat (Núcleo de Estudos de Economia Catarinense), vinculado à UFSC, analisa a curva de desenvolvimento da doença e destaca que, após mais de sete meses do primeiro registro, o mês de outubro representa uma terceira fase de propagação da Covid-19 no território catarinense. As primeiras fases seriam no mês de março e em julho.

 

último boletim do Necat mostra que o número de casos da doença saltou de 231.412 em 15 de outubro, para 241.044 em 22 de outubro, data de publicação do documento. Isso representa um crescimento percentual de 4% e revela a contaminação de quase 10 mil pessoas em apenas uma semana.

 

E a alta se manteve. Santa Catarina registrou, nesta quarta-feira (28), 2.652 casos da Covid-19, a maior alta diária de casos desde o dia 31 de agosto, quando o Estado contabilizou 2.697 casos.

 

Agora, o total é de 252.551 casos, com 237.563 (94%) dos pacientes já recuperados. Os dados são atualizados sempre ao final do dia.

 

Descaso da população

 

A superintendente da Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde, Raquel Bittencourt, diz que as atividades foram liberadas mediante regramentos que não estão sendo cumpridos pela população.

 

“Observamos pessoas se comportando como se estivéssemos em 2019. Sem máscara, se aglomerando em praias, restaurantes, festas clandestinas e até no ônibus. Achar que a pandemia já acabou iria refletir, mais cedo ou mais tarde. Estamos vendo agora o resultado disso”, alerta.

 

A especialista em Epidemiologia do Coes (Centro de Operações de Emergência em Saúde), Maria Cristina Willemann, diz que o período de campanha eleitoral também estaria contribuindo para as aglomerações.

 

A retomada massiva do trabalho presencial também gerou, naturalmente, um maior fluxo de pessoas nas ruas.

 

Nesse cenário, a especialista destaca dois fatores que são preocupantes: o fato das pessoas estarem cansadas de ficar em casa aliado à flexibilização das atividades por necessidade econômica.

 

O “cansaço” das pessoas também foi relatado pela superintendente da Vigilância em Saúde. Segundo ela, um novo lockdown estaria descartado e estabelecer regras para as atividades seria mais seguro do que suspendê-las. No entanto, é preciso cautela e respeito aos protocolos de segurança.

 

Fiscalização para obediência

 

O chefe do Departamento de Saúde Pública da UFSC, Fabrício Augusto Menegon, por outro lado, defende o fechamento de atividades não essenciais para conter o avanço da doença causada pelo novo coronavírus.

 

Ele diz que o comportamento das pessoas é reflexo da gestão do poder público. Sendo assim, faltaria uma fiscalização eficaz para fazer valer os protocolos estabelecidos em decretos.

 

“A questão da pandemia é de interesse coletivo, não individual. A população tem, sim, uma parcela de responsabilidade, mas é pequena em relação à política de enfrentamento. Só com ela vamos promover as mudanças necessárias para conter a doença”, afirma.

 

Da mesma forma, D’Orsi defende o fortalecimento da gestão pública. Ela ainda ressalta a necessidade da colaboração das pessoas e da adequação dos serviços de saúde, que precisam de mais profissionais para dar conta do aumento de casos.

 

Matriz com dados defasados

 

A Secretaria de Estado da Saúde divulga, semanalmente, a matriz de risco potencial para a Covid-19, que apresenta o quadro mais recente da doença nas 16 macrorregiões que compõem o território catarinense.

 

Quatro itens são levados em consideração na avaliação: evento sentinela, transmissibilidade, monitoramento e capacidade de atenção. A suspensão ou liberação das atividades é feita de acordo com o cenário indicado pela matriz.

Mapa de risco divulgado no dia 27 de outubro – Foto: Divulgação / ND

 

Para Menegon, no entanto, a iniciativa do Estado teria perdido sua capacidade de identificação de risco. Isso porque o tópico “transmissibilidade” teria ficado defasado para identificar as altas no contágio e reverberá-las no mapa de regiões.

 

O professor destaca que a matriz subestima a realidade da pandemia no Estado. Como consequência, as políticas de enfrentamento formuladas pela gestão pública, que se baseia no mapa, não acompanham a gravidade do quadro.

 

Esse cenário já havia sido relatado pela especialista Maria Cristina em entrevista ao ND+ no dia 22 de outubro.

 

Segundo ela, o quadro da doença em Santa Catarina pode ser ainda pior do que o apresentado na matriz de risco, sobretudo na região da Grande Florianópolis. O motivo seria o atraso no repasse das informações ao governo do Estado.

 

Em contrapartida, a superintende da Vigilância em Saúde nega qualquer defasagem na matriz de risco e diz que os indicadores refletem os dados da semana anterior, conforme o sistema de informação do Ministério da Saúde.

 


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Fonte/ND+