Uma pessoa morre a cada 4 dias na BR-282


Por Catanduvas Online

28/10/2019 23:16



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Fonte: Arquivo/Luiz Evangelista/ND

 

Grandiosa e complexa, a BR-282 é a maior rodovia em extensão de Santa Catarina. São 680,6 quilômetros que cortam o Estado, formando uma espinha dorsal que liga a Capital ao Extremo-Oeste.

Pelo caminho da rodovia ficam para trás paisagens, montanhas e curvas acentuadas. Também ficam vidas e famílias destruídas pela violência no trânsito, que virou marca da via.

Uma morte a cada 4 dias

O balanço anual da PRF (Polícia Rodoviária Federal) mostra que 379 pessoas morreram em acidentes na BR-282 nos últimos quatro anos, dez meses e 21 dias.

O número revela que, a cada 4,6 dias, a imprensa conta a mesma história de vidas dilaceradas – tanto das que se vão, quanto das que ficam.

Entre essas histórias está a de quatro mulheres – avó, mãe e duas crianças. No dia 16 de outubro, elas não chegaram em casa, em Ituporanga, após viajarem a Florianópolis para um exame da menina mais velha, de 7 anos.

Angelita Aparecida do Nascimento, de 53 anos. Fabiana Figueiredo Felaço, de 31 anos. Eduarda Vitória Felaço, de 7 anos. Eloá Vitória Felaço, de 5 anos.

Assim como as outras 375 mortes do período, elas não são apenas números, que ilustram o descaso público com as rodovias e a imprudência de motoristas.

A reportagem do ND colocou uma lupa sobre a BR-282: para entender o projeto de construção que resultou em trechos perigosos, o alto número de mortes, e o motivo das obras de melhorias se arrastarem por anos.

Pista simples e ranking de mortes

Nos 680,6 quilômetros de extensão da BR-282, pouco mais de 40 km são duplicados. As obras para ampliação de pistas – que incluem construção de marginais – de outros 116 km, no Oeste, caminham a passos lentos.

Com pista simples e trechos sinuosos, a rodovia costuma ter destaque em rankings de violência no trânsito. Em 2018, ocupou o primeiro lugar no número de mortes em vias federais de Santa Catarina. Foram 107 pessoas que perderam a vida.

Naquele ano, 106 pessoas morreram na BR-101, segunda colocada e rodovia com maior movimento no Estado.

Em 2019, a dois meses para o final do ano, a BR-282 já acumula 72 mortes (de 1º de janeiro a 21 de outubro).

Essas viagens interrompidas pela tragédia só contabilizam quem morreu no momento do atendimento na rodovia. Vítimas que não resistiram nas ambulâncias ou nos hospitais não são consideradas.

Ou seja, a rodovia é ainda mais letal do que mostram os números.

Família morreu no trecho mais perigoso

O trecho em que morreram Angelita, Fabiana, Eduarda e Eloá Vitória está localizado em uma das regiões mais perigosas da BR-282. Naquela tarde chuvosa de outubro, a carro conduzido por Volni Figueiredo, de 59 anos, saiu da pista e colidiu em outro veículo.

O acidente ocorreu em uma curva sinuosa no km 49. Volni, único sobrevivente, perdeu quase toda a família. Esposa, filha e netas se foram para sempre, em segundos.

O fluxo intenso de veículos na BR-282 começa já no km 20, em Palhoça. O relevo íngreme, por sua vez, começa logo depois, em Santo Amaro da Imperatriz, e se estende até o km 85, em Alfredo Wagner.

Nestes 65 km do trecho considerado um dos mais letais, 15 pessoas perderam a vida em 2019. Segundo a PRF (Polícia Rodoviária Federal), o número representa 22% das mortes deste ano na BR-282.

Para Pedro Paulo da Cruz, especialista em gestão e segurança no trânsito, é nestas áreas que os motoristas precisam ter atenção redobrada.

Nos 65 km há perímetros urbanos e, de ambos os lados, moradores se deslocam diariamente. “O trecho é de pista simples, sem duplicação e com muitas curvas. Isso aumenta as chances de acidentes”, ressalta Cruz.

Palco de tragédias em 2015 e 2018

Há quatro anos, a BR-282 foi notícia nacional após ser palco de outra tragédia. Em 10 de janeiro de 2015, um ônibus caiu em uma ribanceira de 50 metros.

Nove pessoas morreram, entre elas seis crianças, e 14 ficaram gravemente feridas.

O acidente ocorreu no km 119, em Águas Mornas, em uma das curvas do trecho sinuoso. O ônibus tinha saído da Argentina, com destino a Florianópolis.

Três anos depois, a poucos quilômetros de distância dali, outro acidente matou uma pessoa e deixou 24 feridos.

A colisão ocorreu no km 98, em Alfredo Wagner, e envolveu um ônibus e um caminhão, na tarde de 24 de março de 2018.

Imprudência rouba vidas

Inspetor da PRF, Adriano Fiamoncini conhece bem a BR-282. Além de trafegar na rodovia como qualquer morador de Santa Catarina, o agente é um dos responsáveis pelos relatórios de acidentes na instituição. Ele também atua nas fiscalizações no Estado.

Segundo Fiamoncini, a imprudência dos motoristas é a principal responsável pelas colisões.

Em 2018, 1.632 pessoas ficaram feridas em 1.516 acidentes na BR-282. Neste ano, os registros de colisões, atropelamentos e saídas de pista chegaram a 1.116. No total, 1.431 motoristas, pedestres e passageiros se feriram.

“A rodovia não mata ninguém. A imprudência, a falta de atenção, a alta velocidade e as ultrapassagens feitas sem segurança são as responsáveis pelas mortes”, opinou.

Condutores flagrados em ultrapassagem proibida são multados em R$ 1.467,35, além de perderem sete pontos na carteira pela infração gravíssima.

A multa e a perda de pontos pela velocidade acima do permitido dependem de quanto, em porcentagem, o motorista estava além do estabelecido para a via.
 

Fonte: ND +