Menina também foi vítima de abusos de uma sociedade doente

Independentemente de julgamentos, as autoridades, a mídia e cada um de nós têm o dever de garantir o anonimato, a paz e a infância dessa criança


Por Catanduvas Online

18/08/2020 19:51



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Temos vivido situações terríveis. É inegável que o Brasil passa por um já longo período de polarização, enfrentamentos e intolerância. Não há uma semana que nos poupe de algum fato tenebroso, imoral ou revoltante. E parece que o martírio da menina de dez anos abusada e engravidada pelo tio é o ápice da indignação e da vergonha que vivem se revezando neste país.

 

É o caso de todos se permitirem uma pausa de reflexão, agora que o caso parece ter finalmente encontrado uma solução racional, humana, científica e rigorosamente legal. Que essa criança tenha seu presente e seu futuro amparados, já que nada será capaz de estancar o sofrimento que ela carrega desde os seis anos de idade.

 

O mais chocante é essa menina – vítima de abuso sexual, de uma gravidez criminosa, de uma exposição pública doentia e de um debate que esbarrou na insanidade – correr o risco de ser privada do anonimato, pois nada indica que seus algozes vão se aquietar. Cabe à Justiça garantir a integridade física e o direito à paz e à infância que até hoje foi negada a essa inocente.

 

Independentemente de quaisquer julgamentos (por mais implacáveis ou grandiloquentes que sejam), a sociedade, os poderes, as autoridades constituídas, a mídia, os cidadãos brasileiros, cada um de nós, têm o dever ético, político e religioso de garantir que essa criança deixe de ser vítima do implacável mundo todo ao seu redor.

 


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As legiões que se levantaram em torno dessa tragédia, que nela despejaram o chorume de suas supostas verdades absolutas, precisam se recolher. O Brasil, por meio de um pequeno corpo frágil e torturado, pode se engrandecer. É uma oportunidade atroz, dilacerante. Precisamos cuidar de nossas crianças. E acolher os adultos que, sem perceber, estão doentes, febris e perdendo completamente a razão.

 

Fonte/R7