Morador do Oeste relata dor e drama de duas semanas internado para vencer o coronavírus

Cléber Petuco, de 43 anos, mora em Concórdia e é um dos mais de dois mil pacientes de Covid-19 que estão recuperados em SC


Por Catanduvas Online

19/05/2020 18:38



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Um novo boletim sobre os casos de coronavírus, que foi divulgado pelo Governo do Estado nesta segunda-feira, dia 18, mostrou que 5.175 pessoas foram confirmadas com a doença em Santa Catarina.

 

O número de mortos também cresceu, sendo 85 no estado até ontem. Mas 2.929 pacientes já estão recuperados da doença e outros 2.161 estão em acompanhamento.

 

Em meio a tantas informações preocupantes sobre o novo coronavírus, o Oeste Mais conseguiu conversar com um dos pacientes que está na lista de curados d Covid-19. Apesar da parte ruim já ter passado, o economista Cléber Petuco, de 43 anos, relata momentos de dor e tristeza enquanto esteve no hospital, entre a vida e a morte.

 


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Cléber reside em Concórdia, mas já morou em Ponte Serrada, onde foi presidente da Apae do município por quatro mandatos, além de um dos fundadores e presidente da Associação de Trilheiros Javalama.

 

Ele teve os sintomas básicos do coronavírus no dia 23 de abril, apresentando tosse seca e dor no corpo que, segundo ele, “nada que fosse chamar a atenção”.

 

Mesmo com os sintomas, o concordiense deu continuidade aos trabalhos em casa. Ele, que se diz a pessoa mais precavida e cuidadosa e sempre fez o uso de máscaras, seguindo as orientações para o uso de álcool em gel, além de manter o distanciamento social recomendado, acabou se contaminando.

 

“Durantes dois a três dias, os sintomas foram se manifestando de formas diferentes. Começou a doer a garganta e alguns picos de febre que logo cessavam e voltava ao normal”, conta.

 

Cinco dias após o início dos sintomas, Cléber resolveu procurar atendimento médico por perceber que poderia estar com a Covid-19. Durante a consulta, foi encaminhado com urgência ao hospital, sendo atendido e liberado em seguida.

 

“No dia seguinte [29 de abril] retornei ao hospital com falta de ar, dores absurdas pelo corpo, onde nestas 24 horas tudo piorou. Nauseas, vômitos, sudoreses agudas, e a febre não baixava mais”, lembra.

 

O economista passou pela consulta novamente e foi encaminhado para realizar exames com urgência. Após os resultados, foi diagnosticado com um quadro gravíssimo de pneumonia.

 

No mesmo 29 de abril, o ex-morador de Ponte Serrada foi internado na UTI do Hospital São Francisco, de Concórdia, onde permaneceu até o dia 10 de maio.

 

Os relatos do paciente são de dias muito sofridos, onde fez uso de medicamentos fortes, todos os dias, além de passar por exames durante o período de internação. Na UTI, os médicos que estavam cuidando dele e de outros pacientes queriam acompanhar de perto a situação de Cléber, que estava se agravando a cada minuto.

 

“Seja forte”

 

Cleber lembra que em seus dias de UTI começou a entender e interpretar como funcionavam os sinais vitais através dos aparelhos de monitoramento.

 

“Uma enfermeira me dizia: está vendo esta máquina? Ela se chama respirador mecânico. Está ligada e pronta para usarmos, porém, seja forte, muito forte, e faça de tudo para que você não seja intubado”, relembra.

 

O concordiense conta que naquele período inicial, os pulmões já estavam comprometidos e cada tentativa que fazia para respirar, parecia “facadas” nas costas, com uma dor insuportável.

 

Um cenário triste

 

Em meio a tantas pessoas doentes e na mesma situação que Cléber estava, não dava para prestar atenção em mais nada. Petuco relembra das fisioterapias, dos medicamentos fortíssimos e até dos ‘bips’ dos aparelhos de monitoramento.

 

Mas o que ele mais se recorda é dos profissionais da saúde fazendo os demais pacientes voltarem à vida, realizando massagens cardiorrespiratórias e outros procedimentos.

 

“Cenários desoladores que não faziam parte de minha vida e de uma hora para outra me vi em um cenário entre a vida e a morte. Muito, muito perto”, comenta.

Cléber Petuco passou quase duas semanas no hospital (Foto ilustrativa)

 

Lutando para viver

 

Em quase 15 dias refém de uma cama de hospital, Cléber não perdeu a confiança em nenhum momento. Ele relata que se mantinha acordado o máximo de tempo possível, se monitorando e controlando a própria respiração.

 

“Eu procurava não tossir, pois caso me desse uma crise, me colocaria naquela máquina. A dor era insuportável, onde as veias começaram a se dilatar e ficar hematomas”.

 

Ele ouvia os enfermeiros chamarem pelo médico e temia que alguma coisa estivesse errada. Os procedimentos eram feitos sempre muito depressa, como a aplicação de medicamentos por um cateter venoso.

 

“Para mim aquilo foi um choque, estar dentro de uma UTI e vendo que meu organismo não estava reagindo como era para reagir, pois os medicamentos tinham uma ardência, uma dor insuportável, mas não desisti”.

 

Após quatro ou cinco dias de internação, Cléber passou a notar que a respiração estava se restabelecendo. Isso porque seguia à risca todas as orientações que recebia das fisioterapeutas do setor.

 

Apesar disso, no dia 8 de maio, após diversos exames, Cléber Petuco ainda testava positivo para a Covid-19. Ele lembra que chegou a ouvir médicos comentando sobre o caso dele e informando que havia uma lesão nos pulmões e também no coração. Ele passou a ser monitorando com mais frequência até se recuperar.

 

A recuperação

 

A dor e o sofrimento que pareciam não passar estavam ficando cada vez mais perto de acabar. A data que mais marcou Cléber durante todos esses dias internado foi o domingo de Dia das Mães.

 

Após fazer novos exames e perceber que o quadro estava melhorando, o médico deu uma notícia. “Você terminou todo o medicamento do protocolo e você venceu o Covid-19 e está bem. Vamos te dar alta para um quarto, mas continuaremos a te monitorar”, recorda Cléber, sobre a frase do médico naquele domingo.

 

Depois disso, Petuco foi transferido para um quarto ainda fazendo o uso do oxigênio. Era algo simples, uma simples mudança de ambiente, mas para ele, a reconquista da vida.

 

O morador de Concórdia ainda não tinha forças para se manter sozinho, mas já esperava ansioso para poder dar a notícia aos familiares de que estava em um quarto e melhor de saúde.

 

“Tinha que me concentrar muito em meu corpo, pois qualquer tosse ou disritmia ou alteração dos sinais vitais, me colocaria novamente na UTI. Então, me concentrava na respiração e em meus sinais vitais ao máximo possível”.

 

Assim que mais alguns dias passaram e a saúde de Cléber foi se estabilizando, no dia 12 de maio, a notícia mais esperada pelo economista chegou.

 

“A médica me disse que tínhamos vencido o Covid-19, em um dos meus piores quadros. Notei a alegria daquela médica em dizer que estava me mandando para casa”, relembra.

 

Apesar de saber que estava prestes a sair do hospital e ver a alegria e satisfação dos profissionais que o atenderam durante todo o período de internação, Cléber podia notar a frustração da mesma equipe quando os pacientes não resistiam, lembranças tristes que o economista terá que guardar para a vida.

 

Conscientização

 

Os dias de angustia e dor acabaram para Cléber, que já está se recuperando em casa, junto da família. Apesar de não estar mais em uma cama de hospital e nem receber medicamentos fortes e doloridos, ele pede para que as pessoas tenham mais cuidado e se conscientizem sobre o que realmente é a pandemia.

 

“Esta doença é muito rápida e silenciosa. Os cuidados devem ser seguidos e a qualquer sinal ou sintoma, procure atendimento médico. A doença se manifesta de diversas formas e intensidades”, alerta.

 

“Gostaria de aproveitar a oportunidade e primeiramente agradecer a Deus por poder estar aqui. Também agradecer imensamente a todas as orações e pedidos de melhora feitos em meu nome e em nome de minha família”.

 

 

Fonte/Oeste Mais